19 de maio de 2019

Livro: Quiet: The Power of Introverts in a World That Can’t Stop Talking
Autora: Susan Cain
Ano: 2012

TL;DR: se você acha que é introvertido, leia esse livro. É fácil de ler e tem um monte de informações que podem te dar novos insights sobre como você funciona.


resumo

Quiet é um livro que quer te mostrar que introversão é uma característica, e não um defeito.

O livro se lê como um artigo bem longo sobre introversão. Ele começa falando sobre como na sociedade americana dos dias de hoje, uma pessoa extrovertida é vista como bem-ajustada e uma pessoa introvertida é vista como anormal ou doente. A autora chama isso de o Ideal Extrovertido, e corresponde ao “Mundo Que Não Cala A Boca” do subtítulo. Vemos manifestações desse ideal em alguns ambientes (universidades, mercado de trabalho), e também é feita uma discussão sobre suas possíveis origens (transição dos EUA de rural para urbano).

Depois, o livro explora a relação nature/nurture de introversão/extroversão: até que ponto esses comportamentos são causados por razões genéticas? Até que ponto podemos mudá-los? A tese central de “introversão como sensibilidade” é apresentada.

O livro se encerra com alguns capítulos sobre conselhos práticos; agora que você sabe o que são introvertidos e o que eles comem, quais são suas dificuldades no dia-a-dia? O capítulo 10 explora as diferenças de comunicação entre introvertidos e extrovertidos (em uma briga por exemplo, os dois tendem a reagir de formas opostas), e o capítulo 11 fala sobre como criar filhos introvertidos.


notas

O principal insight do livro pra mim foi a tese de que introversão está relacionada à sensibilidade, uma ideia que aparentemente vem do psicólogo Jerome Kagan. A ideia é que bebês mais sensíveis a estímulos se assustam com excessos, e portanto naturalmente preferem ambientes mais quietos; em contrapartida, bebês menos sensíveis a estímulos ficam entediados em ambientes quietos, e buscam ambientes mais ativos. Dessa característica biológica de sensibilidade, emergem naturalmente os comportamentos tidos como Introvertidos e Extrovertidos. Por que uma criança prefere brincar sozinha ao invés de interagir com outras crianças? O livro diz: talvez porque a agitação das outras crianças deixe ela nervosa. Talvez ela não seja anti-social, na verdade talvez ela adore conversar com adultos, já que adultos não ficam pulando de um lado pro outro. Talvez isso tudo não passe de um mal-entendido, e a criança simplesmente tem uma biologia sensível. Estou simplificando bastante a ideia, e a autora deixa claro que tudo são tendências que apenas têm indícios científicos. Mas eu adoro pensar nas coisas em termos de emergência natural, e essa ideia me deu uma lente interessante no campo da psicologia.

Essa ideia de sensibilidade, pra mim, acabou se relacionando com outra ideia que eu tenho há algum tempo: a de atenção. Apesar do livro não falar isso explicitamente, ele definitivamente passa a ideia de que introvertidos são mais atentos, justamente por conta da sua sensibilidade. A sensibilidade os arma com uma maior facilidade em estar “presentes”, afinal de contas eles são mais sensíveis aos pequenos detalhes, são melhores em ouvir o próximo, em ter conversas profundas, em pensar grandes ideias. Honestamente, a autora faz os extrovertidos parecerem meio retardados. Sendo “atenção” uma qualidade desejada, me pergunto: será que introvertidos entram menos no piloto automático1? E ainda: será que meus esforços em me tornar mais extrovertido (decorrentes da pressão inevitável do famigerado Ideal) são parte do motivo pelo qual eu tenho me tornado cada vez mais insconsciente?

É apenas um pensamento solto. Mas eu sempre tive a sensação que o caminho mais fácil para ser uma pessoa sociável - conversar com os outros sem medo - é simplesmente não prestar atenção no que a outra pessoa fala. É só se tornar completamente dessensibilizado ao que o próximo pensa ou diz, e ao encarar o próximo como um objeto, você descobre que não há o que se temer. O medo vem da ação. Mas com essa filosofia, você se torna um mestre das artes marciais do diálogo, e percebe que não há mais ação - apenas reação. Quem teme é o piloto humano, ele é o cara autoconsciente que derruba o espaguete - o piloto automático só segue.

Tudo isso me faz pensar que na sede pela sociabilidade, talvez eu tenha sacrificado parte da minha presença e atenção naturais. Qual é, afinal, a relação entre socialização e consciência? Eu não tinha pensado nisso antes.

Eu gostei de Quiet. Apesar de cada capítulo ser uma variação no tema central de “introversão”, o livro nunca chega a ser chato ou incoeso. Os capítulos se erguem uns por cima dos outros (primeiro vemos o ideal de extroversão, depois vemos como ele se construiu, depois vemos como ele existe em outras sociedades etc), e nunca parece que os temas estão desconexos. Esse era um dos meus medos. Outro medo era que o livro fosse um coach básico de auto-ajuda de “encontre seu introvertido interior”, mas também não é nada disso.

É só um livro que fala um monte de coisa, de uma forma leve e tranquila. Se você se considera introvertido, eu recomendaria esse livro - é provável que alguma dessas coisas grude em você.


  1. Eu escrevi sobre esse assunto aqui.